sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O dia em que a cigarra colocou o grandinho pra correr

foi assim.

cigarra, todo dia, canta, ou melhor, grita às sete horas. (sete por que é horário de verão, mas é seis.) grita tanto que parece que o dia inteiro ela sufoca esse grito pra, no seu tempo, na hora exata, se libertar daquilo. soa como um alívio, o grito da cigarra. e é tão alto que ela tem um jeitinho de tapar o próprio ouvido pra não explodir na agudez da sua agonia libertada - isso o grandinho que me ensinou.

mora uma cigarra aqui. uma, não, várias. só que uma está mais próxima da gente, na quaresmeira em frente à varanda. e grita. mas quando alguém passa perto, ela para. 
de uma vez. 
parece que cigarra tem olhos nas costas.

isso, eu contei pro grandinho e ele, desafiado, foi de va ga riinho tentaaando chegar perto dela.

enquanto isso, percebemos:
1. que o grito da cigarra não começa tão agudo, mas vai, bem aos poucos, bem devagar, bem lisinho, ficando cada vez mais agudo.
2. que quando chega no auge da agudez, ela faz: iá iá iá iá iá iá.
3. contamos. na primeira vez, fez iá trinta e sete vezes. na segunda, vinte e quatro. na terceira, vinte e três. parece que não tem regularidade no tanto.
4. ela para os iás de repente. 

e o grandinho indo. ela parou os iás de repente. acho que ela te viu, falei. ele, devagar, voltou dois passos. ela voltou a gritar. ele continuou a andar. viu!, e me falou onde ela estava. ela continuou cantando. mas, de repente, ela parou de cantar e vum! voou na direção dele! fez um círculo: voou e voltou pra árvore, voou e voltou pra árvore! no susto, ele correu de lá! 

ela voltou a cantar. contei cinquenta iás e, quando entrei em casa, lá estava ele, no meu quarto, na cama.

foi assim.


Um comentário:

  1. Cigarra. Ternura. Infância. Histórias para contar para filhos e netos. Ah!... Que bom que existem esses momentos... Bjos para vocês cinco!

    ResponderExcluir