domingo, 9 de setembro de 2012

Sobre a morte

por dias pensei se escrevia sobre isso ou não. por dias, pensei que não, que aqui é espaço de coisas boas. outros dias, que sim, aqui é lugar do vivido. venci a mim mesma e vou ao registro da vivência da dor, da perda, do choro e da completa ausência de sentido.

perdemos uma amiga. de fato, a filha de uma amiga. e ganhamos uma vivência triste. 

eu choro pela dor da perda, mas principalmente pela dor da mãe. por essa mãe-mulher-guerreira que tanto luta por toda a vida e perdeu a filha. que viu a cara do sofrimento maior na dor que sua filha querida sentiu. que está sem um pedaço de si mesma. choro pelo que essa mãe passa e ainda vai passar na volta à rotina, pelo buraco que deve estar dentro dela. da mãe e da irmã. 

dói-me mais a dor alheia que a minha. sinto raiva com sua raiva do inimigo oculto que tirou dos seus braços a filha. sinto com ela a mesma imensa vontade de que fosse ela no lugar da filha. sinto o desejo de juntar minha mão à dela e tirar de dentro da filha aquilo que a fez ir embora, de arrancar com as mãos a doença. tão agressiva doença... esse é meu choro maior. sofrido.

a pequena não. ela chorou pela menina que se foi. pela dor que deve ser a morte, pela própria morte. quis ver o sepultamento até o fim para poder ver as coroas de flores serem colocadas sobre a terra - homenagem final. chorou pela distância entre filha e mãe, entre as irmãs. e agora? como elas vão ficar?

choramos juntas. ela no meu colo.

lembrei-me então do que o pai disse, certa vez: pequena, sabe o que eu penso? que morrer é ir viver em outro lugar. nos sentimos melhor de lembrar disso. mas a distância continua. talvez até aumenta, quem sabe? lembrei-me de outras mortes vividas e da sensação de um espaço vazio dentro da gente. mas esse espaço vai aos poucos sendo preenchido com as lembranças. todas as lembranças: ruins e boas, tristes e engraçadas, sofridas e felizes. e assim o espaço se torna como que um quarto cheio de almofadões e almofadas gostosas de se sentar e deitar, um quarto para se entrar e ficar à vontade. um quarto no coração, onde se vai pra chorar, mas também pra rir; pra sentir ainda mais saudades, mas também para acabar com ela; um quarto onde se entra com um sorriso triste no rosto. a dor continua, talvez eternamente, mas o espaço se preenche.

continuamos chorando.
acalmamos quando me lembrei de uma fala do grandinho, dita já há algum tempo. a pequena também gostou. certa vez ele me surpreendeu com a beleza do seu pensamento: mãe, eu acho que o amor é como um imã grande, bem grande. um imã gigante que mantém juntos aqueles que se amam. amor verdadeiro. a distância, assim, deixa de existir. elas estão juntas, mesmo separadas, porque o imã gigante do amor faz isso. deixa cada uma no coração da outra. 

choramos um pouco mais. e dormimos juntas naquela noite dura.



7 comentários:

  1. Muito lindo o texto. Chorei desde o começo mas terminei confortado. TE AMO! Amilcar.

    ResponderExcluir
  2. A pequena me contou a história do imã, direitinho. Que lindo esse imã que se chama amor, eu disse. Ela me corrigiu: Não, vovó, o imã não se CHAMA amor, ele É o amor.
    Choro e sorrio com vocês.
    Mamãe/Vovó

    ResponderExcluir
  3. A bela está fazendo todo mundo feliz com o blog. Hora a gente chora, hora a gente sorri, quando estava lendo eu falava, olha aqui Thaiz, estou toda arrepiada! O seu blog me faz conhecer um outro lado seu e só faz aumentar a minha admiração! Ah, Bela também te amo rsrsr....

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahaha! Eu também te amo! E amo a Thaiz, também! Eu estou sentindo saudade dos seus pequenos prazeres, pra me arrepiar do lado de cá, viu?!

      Excluir